A promessa do 'PhD Digital' e a dura realidade do hype

A história da tecnologia é pavimentada com lançamentos monumentais e, por vezes, com expectativas que tocam os céus. O lançamento do GPT-5 pela OpenAI parecia ser um desses momentos. Sam Altman, CEO da empresa, preparou o terreno com comparações grandiosas, descrevendo a nova inteligência artificial como um marco semelhante ao primeiro iPhone com tela Retina e até postando uma imagem da Estrela da Morte para inflamar a imaginação do público. A promessa era de um salto quântico, um modelo com a inteligência de um “PhD em qualquer assunto”, como destacou o site Backlinko.

Contudo, quando o GPT-5 finalmente chegou ao ChatGPT, a reação do grande público foi, para dizer o mínimo, contida. Conforme documentado pelo The Verge, a internet foi rapidamente inundada por críticas e memes. Usuários relataram que o modelo, apesar de rápido, parecia “frio”, “distante” e menos eloquente que seu antecessor. Casos bizarros viralizaram, como a IA insistindo que a palavra “blueberry” tinha três 'b's ou criando estados fictícios em um mapa dos EUA. O descontentamento foi tão grande que a OpenAI se viu obrigada a reativar o suporte a um modelo mais antigo para atender aos usuários que usavam o chatbot para apoio emocional. O especialista em IA Gary Marcus, citado pelo The Verge, resumiu o sentimento de muitos ao classificar o GPT-5 como “atrasado, super-hypado e decepcionante”.

Nos bastidores, a máquina corporativa acelera

Enquanto o tribunal da opinião pública parecia ter dado seu veredito, uma narrativa completamente diferente se desenrolava longe dos holofotes do consumidor. A verdadeira revolução do GPT-5 não estava acontecendo no chat do dia a dia, mas sim nas APIs e nos sistemas das empresas. De acordo com um relatório da CNBC, o lançamento do modelo foi um sucesso estrondoso no ambiente corporativo.

Os números são expressivos: desde a sua estreia, o GPT-5 mais do que dobrou a atividade de codificação e construção de agentes, e viu um salto de oito vezes nas cargas de trabalho que exigem raciocínio complexo. Empresas de tecnologia como Vercel, JetBrains, Factory e Qodo não perderam tempo e já começaram a integrar o GPT-5 como o modelo padrão em algumas de suas ferramentas. O motivo? Uma combinação poderosa de desempenho, custo e velocidade.

Aaron Levie, CEO da Box, descreveu o modelo à CNBC como um “avanço significativo”, elogiando sua capacidade de raciocínio em documentos longos e complexos, algo que sistemas anteriores não conseguiam igualar. Malte Ubl, CTO da Vercel, afirmou que, no campo da codificação, onde o Claude da Anthropic reinava absoluto, a OpenAI “pelo menos alcançou” o concorrente, superando-o em algumas tarefas de prototipagem e design de produto.

A guerra fria da IA: OpenAI vs. Anthropic

Este movimento da OpenAI não é acidental; é uma manobra estratégica e calculada em uma disputa acirrada pelo domínio do mercado de IA empresarial, principalmente contra sua rival Anthropic. A CNBC destaca um fator determinante nesta guerra: o preço. O GPT-5 é significativamente mais barato que o modelo de ponta da Anthropic, o Claude Opus 4.1, com uma diferença que pode chegar a sete vezes e meia em alguns casos. Para empresas que executam milhões de operações, essa economia é gigantesca.

A economia dessa disputa, no entanto, é brutal. A OpenAI está a caminho de queimar 8 bilhões de dólares este ano para sustentar sua infraestrutura e preços competitivos. Para garantir sua posição, a empresa montou uma equipe de vendas corporativas com mais de 500 pessoas, operando de forma independente de sua principal investidora, a Microsoft. O objetivo é claro: conquistar clientes, integrá-los ao seu ecossistema e construir um negócio sustentável sobre essa lealdade.

O futuro é menos poesia e mais código-fonte

O lançamento do GPT-5 marca um ponto de inflexão na história da inteligência artificial generativa. Ele sinaliza uma transição do espetáculo para a utilidade prática. Enquanto o público geral se decepcionava com a falta de um salto mágico na conversação, o mundo dos negócios encontrou uma ferramenta poderosa, mais barata e eficiente para automatizar tarefas, escrever código e resolver problemas complexos.

A OpenAI pode ter falhado no teste do hype, mas parece estar vencendo onde, segundo a CNBC, o dinheiro realmente está. O robô que aprendeu a conversar com o mundo agora está vestindo um terno, focado não em criar o próximo soneto viral, mas em otimizar a próxima linha de produção de software. A grande revolução da IA, ao que tudo indica, não será televisionada em um chat, mas silenciosamente compilada nos servidores das maiores empresas do mundo.