Nvidia Expande Domínio: Compra Guardião do Open Source e Libera Nova Geração de IA

Em um movimento que ecoa pelos corredores dos maiores data centers do mundo, a Nvidia anunciou nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2025, uma ofensiva estratégica em duas frentes para solidificar seu império na era da inteligência artificial. A companhia não só adquiriu a SchedMD, a mente por trás do venerável sistema de gerenciamento de cargas de trabalho Slurm, como também lançou a Nemotron 3, uma nova e poderosa família de modelos de IA de código aberto. A mensagem é clara: a rainha das GPUs agora quer ser também a arquiteta do ecossistema de software que roda nelas.

O Guardião dos Supercomputadores Agora é da Nvidia

Para quem não vive no mundo da computação de alto desempenho (HPC), o nome Slurm pode não significar muito. No entanto, para os arqueólogos digitais como eu, ele é uma lenda. Criado em 2002, o Slurm é um software de código aberto que funciona como um maestro invisível, orquestrando e agendando tarefas em clusters de servidores gigantescos. Pense nele como o sistema operacional dos supercomputadores. Segundo fontes como o portal Startups, o Slurm é tão fundamental que está presente na grande maioria dos sistemas listados no ranking TOP500 dos supercomputadores mais potentes do planeta.

A aquisição da SchedMD, empresa fundada em 2010 pelos desenvolvedores originais do Slurm, Morris Jette e Danny Auble, coloca a Nvidia no controle de uma peça vital dessa infraestrutura. Consciente do poder que tem em mãos, a Nvidia apressou-se em acalmar a comunidade, afirmando em seu comunicado que o Slurm continuará sendo um software open source e neutro em relação a fornecedores. A promessa é de acelerar seu desenvolvimento e integrá-lo ainda mais aos fluxos de trabalho de IA, sem trancá-lo em seu ecossistema. É como comprar a empresa que inventou o martelo para garantir que todo mundo possa construir casas, mesmo que você venda os pregos mais caros da cidade. Piadas sem graça à parte, a jogada é genial.

Danny Auble, CEO da SchedMD, celebrou o negócio, afirmando que a aquisição é a “validação definitiva do papel crítico do Slurm nos ambientes de HPC e IA mais exigentes do mundo”. Ele complementou que a expertise da Nvidia impulsionará o desenvolvimento da ferramenta para a próxima geração de supercomputação.

Nemotron 3: A Nova Geração de IAs de Código Aberto

Como se a aquisição do cérebro dos supercomputadores não fosse suficiente, a Nvidia também revelou sua nova família de modelos de IA, a Nemotron 3. Descrita pela empresa como a “família de modelos abertos mais eficiente” para construir agentes de IA, ela chega em três sabores:

  • Nemotron 3 Nano: Um modelo menor, com 30 bilhões de parâmetros, ideal para tarefas específicas e direcionadas.
  • Nemotron 3 Super: Um modelo intermediário de 100 bilhões de parâmetros, projetado para aplicações com múltiplos agentes de IA.
  • Nemotron 3 Ultra: O gigante da família, com 500 bilhões de parâmetros, voltado para as tarefas mais complexas e exigentes.

O grande diferencial técnico, segundo o The New Stack, é o uso da arquitetura MoE (Mixture of Experts). Em vez de um único cérebro gigantesco que precisa ser ativado por completo para qualquer tarefa, o MoE funciona como uma equipe de especialistas. Para cada problema, apenas os especialistas mais relevantes são “acordados” para trabalhar. No caso do Nemotron 3 Nano, por exemplo, dos 30 bilhões de parâmetros totais, apenas 3 bilhões ficam ativos por vez, o que, segundo a Nvidia, o torna até 4 vezes mais performático que modelos de tamanho similar. Além disso, a empresa liberou um tesouro para a comunidade: 3 trilhões de tokens de dados de pré-treinamento, permitindo que desenvolvedores de todo o mundo possam refinar e adaptar os modelos para seus próprios fins.

Por que a Rainha do Hardware Quer Dominar o Software?

A estratégia por trás desses anúncios simultâneos é profunda. A Nvidia está construindo um ecossistema completo. Ao controlar o gerenciador de workloads (Slurm), ela garante que as tarefas de IA sejam executadas da maneira mais eficiente possível em suas GPUs. Ao fornecer modelos de IA de ponta e abertos (Nemotron), ela incentiva desenvolvedores a criarem aplicações que, por sua vez, demandarão mais poder de processamento – que ela vende.

“A inovação aberta é a base do progresso da IA”, declarou Jensen Huang, CEO da Nvidia, em comunicado repercutido pelo TechCrunch. A empresa aposta que o futuro está na “IA física”, que engloba robótica e veículos autônomos, um mercado que exigirá uma integração perfeita entre hardware e software.

Em uma coletiva de imprensa, Kari Briski, VP de IA Generativa da Nvidia, deu uma visão ainda mais clara da filosofia da empresa. Conforme relatado pelo The New Stack, ela explicou que a Nvidia constrói seus próprios modelos para levar seu hardware ao limite e fomentar um ecossistema de desenvolvedores. “Eu vejo esses LLMs como se fossem uma biblioteca. E o que fazemos com bibliotecas? Nós as disponibilizamos para que [desenvolvedores] possam inspecionar o código, entendê-lo, construir sobre ele e melhorá-lo”.

Ao final, a Nvidia não está apenas vendendo as picaretas na corrida do ouro da IA. Ela está comprando o terreno, fornecendo os mapas e ensinando as melhores técnicas de mineração, garantindo que, não importa quem encontre a maior pepita, a infraestrutura fundamental por trás do sucesso tenha sua assinatura. A gigante de Santa Clara está deixando de ser apenas o motor da IA para se tornar o seu sistema nervoso central.