O que é 'Slop'? Merriam-Webster responde

No último domingo, 15 de dezembro de 2025, enquanto muitos de nós ainda tentávamos entender o que a inteligência artificial faria por nós, o prestigiado dicionário Merriam-Webster nos deu uma palavra para o que ela já está fazendo conosco. A palavra do ano de 2025 é 'slop', um termo que captura perfeitamente a avalanche de conteúdo digital de baixa qualidade, gerado em massa por IA, que se espalhou pela web como uma praga digital. A escolha reflete a crescente conscientização e, francamente, a irritação do público com os subprodutos menos glamorosos da revolução da IA generativa.

Da Lama ao Caos Digital: A História de uma Palavra Grudenta

Como um bom arqueólogo digital, aprecio uma boa etimologia. A palavra 'slop', segundo o Ars Technica, não nasceu nos servidores da OpenAI. Ela entrou na língua inglesa no século XVIII significando 'lama mole'. No século XIX, evoluiu para descrever restos de comida dados a porcos – o que chamamos de 'lavagem'. Eventualmente, passou a significar qualquer tipo de lixo ou produto de pouco valor. É quase poético que uma palavra com um passado tão sujo tenha sido resgatada para descrever o lixo digital do nosso tempo.

A própria Merriam-Webster descreve a sonoridade da palavra de forma visceral: 'Como lodo, borra e lama, slop tem o som úmido de algo que você não quer tocar'. Em um comunicado à The Associated Press, o presidente da Merriam-Webster, Greg Barlow, chamou a palavra de 'ilustrativa', destacando que ela se tornou parte de uma tecnologia transformadora que as pessoas consideram 'fascinante, irritante e um pouco ridícula'. É como o mainframe de 1960 que ainda roda o sistema bancário: fascinante, um pouco irritante de manter, mas definitivamente não ridículo, ao contrário de um livro sobre história escrito por um chatbot que acha que Cleópatra inventou o smartphone.

A 'Economia do Slop' e o Cardápio da Internet

O fenômeno 'slop' não é apenas uma questão de estética digital; ele gerou o que a TechCrunch apelidou de 'economia do slop'. Neste modelo de negócios um tanto quanto distópico, volumes massivos de conteúdo gerado por IA são criados com o único propósito de atrair cliques e gerar receita de publicidade. O resultado é uma internet cada vez mais polarizada: de um lado, conteúdo de alta qualidade protegido por paywalls; do outro, uma dieta digital gratuita, mas nutricionalmente pobre, composta inteiramente de 'slop'.

A escala do problema é assustadora. Um estudo citado pela TechCrunch em maio de 2025 afirmou que quase 75% de todo o novo conteúdo da web no mês anterior envolvia alguma forma de IA. Estamos falando de livros, podcasts, músicas pop, comerciais de TV e até filmes inteiros gerados por ferramentas como Sora da OpenAI e Veo do Google. Mas o 'slop' não se limita ao entretenimento. Ele invadiu relatórios de cibersegurança, resumos jurídicos, redações universitárias e o que a Merriam-Webster chama de 'workslop' – aqueles relatórios corporativos que desperdiçam o tempo de todo mundo. O Ars Technica até cunhou o termo 'hiring slop' para descrever o fluxo de currículos gerados por IA.

Nem Toda IA é Lixo (Mas Muita Coisa é)

É importante, claro, não jogar o bebê fora junto com a água do banho – ou, neste caso, a IA junto com o 'slop'. O pesquisador independente de IA Simon Willison, que ajudou a popularizar o termo, fez uma comparação interessante em maio de 2024. Para ele, 'slop' está para o conteúdo de IA assim como 'spam' está para o e-mail. 'Nem todo conteúdo promocional é spam, e nem todo conteúdo gerado por IA é slop', escreveu Willison. 'Mas se for gerado sem pensar e empurrado para alguém que não pediu, slop é o termo perfeito'.

A distinção, como apontou Phil Libin, ex-CEO da Evernote, à Axios, pode estar na intenção. 'Quando a IA é usada para produzir coisas medíocres com menos esforço do que levaria sem IA, é slop. Quando é usada para fazer algo melhor do que poderia ter sido feito sem IA, é um aumento positivo'. É a diferença entre usar um sistema para calcular trajetórias complexas para uma sonda espacial e usá-lo para criar mil vídeos de gatinhos dançando com qualidade duvidosa para entupir o feed de alguém.

2025: O Ano em que Nomeamos a Bagunça

A escolha da Merriam-Webster não é um caso isolado. Outros dicionários também apontaram seus holofotes para os efeitos da tecnologia na nossa linguagem e cultura. O Macquarie Dictionary, por exemplo, foi ainda mais direto e elegeu 'AI slop' como seu termo anual. O Oxford Dictionary escolheu 'ragebait', descrevendo o conteúdo projetado para provocar raiva e gerar engajamento, muitas vezes com a ajuda de algoritmos. Já o Collins Dictionary optou por 'vibe coding', refletindo uma nova abordagem na programação.

Essas escolhas mostram que, em 2025, a sociedade está se movendo de uma fase de deslumbramento com a IA para uma fase de avaliação crítica de suas consequências. O pico de buscas por 'slop', segundo Greg Barlow, reflete a crescente percepção dos usuários de que estão encontrando conteúdo falso ou de má qualidade online.

Um Veredito Cultural com Toque de Zombaria

No final das contas, a eleição de 'slop' como palavra do ano é mais do que um reconhecimento linguístico; é um veredito cultural. Em meio a discussões sobre o potencial da IA para revolucionar a ciência ou ameaçar a humanidade, 'slop' oferece uma perspectiva mais pé no chão e zombeteira. Como a própria Merriam-Webster afirmou, a palavra 'estabelece um tom que é menos medroso, mais zombeteiro'. É uma pequena mensagem para a superinteligência artificial: às vezes, você não parece tão inteligente assim.

Assim, 2025 será lembrado como o ano em que, coletivamente, olhamos para a pilha crescente de lixo digital e, em vez de pânico, demos de ombros e a chamamos pelo que ela é: apenas 'slop'. E agora, se me dão licença, preciso verificar se meu antigo sistema de COBOL não gerou nenhum relatório sem querer.